2º Domingo da Quaresma

Transfiguração

As leituras deste domingo convidam-nos a reflectir sobre a nossa “transfiguração”, a nossa conversão à vida nova de Deus; nesse sentido, são-nos apresentadas algumas pistas.

A primeira leitura apresenta-nos Abraão, o modelo do crente. Abraão acreditou em Deus e, por isso, o Senhor considerou-o como justo. A fé de que aqui se fala traduz uma atitude de confiança total, de aceitação radical, de entrega plena aos desígnios de Deus; a justiça é um conceito relacional, que exprime um comportamento correcto no que diz respeito a uma relação comunitária existente: aqui, significa o reconhecimento de que Abraão teve um comportamento correcto na sua relação com Deus, ao confiar totalmente n’Ele e ao aceitar os seus planos sem qualquer dúvida ou discussão.

O Deus que se revela a Abraão é um Deus que se compromete com o homem e cujas promessas são garantidas, gratuitas e incondicionais. Diante disto, somos convidados a construir a nossa existência com serenidade e confiança, sabendo que nos meio das tempestades que agitam a nossa vida ele está lá, acompanhando-nos, amando-nos e sendo a rocha segura a que nos podemos agarrar quando tudo o resto falhou.

A segunda leitura convida-nos a renunciar a essa atitude de orgulho, de auto-suficiência e de triunfalismo, resultantes do cumprimento de ritos externos; a nossa transfiguração resulta de uma verdadeira conversão do coração, construída dia a dia sob o signo da cruz, isto é, do amor e da entrega da vida.

Considerar-se como alguém que já atingiu a meta da perfeição pela prática de alguns ritos externos (as práticas de jejum e abstinência), é orgulho e auto-suficiência: significa que ainda não percebemos onde está o essencial – na mudança do coração. Só a transformação radical do coração nos conduzirá a essa vida nova, transfigurada pela ressurreição.

O Evangelho apresenta-nos Jesus, o Filho amado de Deus, através de quem o Pai oferece aos homens uma proposta de aliança e de libertação. O Antigo Testamento (Lei e Profetas) e as figuras de Moisés e Elias apontam para Jesus e anunciam a salvação definitiva que, nele, irá acontecer. Essa libertação definitiva dar-se-á na cruz, quando Jesus cumprir integralmente o seu destino de entrega, de dom, de amor total. É esse o “novo êxodo”, o dia da libertação definitiva do Povo de Deus.

Os três discípulos que partilham a experiência da transfiguração, recusam-se a aceitar que o triunfo do projecto libertador do Pai passe pelo sofrimento e pela cruz. É no amor e no dom da vida que buscamos a vida nova aqui anunciada.

A experiência de Jesus obriga a continuar a obra que ele começou e a “regressar ao mundo” para fazer da vida um dom e uma entrega aos homens nossos irmãos. O catecismo de muitos de entre nós está bem distante, a nossa bagagem religiosa talvez esteja leve: eis a Quaresma, a ocasião para recuperar energias. Como? Trata-se de ir às fontes, às raízes, aos fundamentos! Esta fonte é Jesus Cristo. “Escutai-O”, diz a voz que se faz ouvir das nuvens: vinde beber a sua Palavra! Abrimos o Livro onde corre esta fonte de água viva? Será que ao lermos os Evangelhos – este ano o Evangelho de Lucas – abrimos os ouvidos e deixamo-nos pôr em questão pelo Mestre?

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