Comunicação na Igreja Católica

Como é que uma religião assente na Escritura hoje não consegue usar os meios publicados para comunicar a Mensagem de Jesus Cristo?

Porque é que nós, católicos, temos tantas dificuldades em tornar visível aquilo em que acreditamos. A Bíblia sempre foi, ao longo da história, o livro com mais reproduções. Os conventos foram durante o primeiro milénio os grandes repositórios da cultura clássica.

Parece-me que nos falta estratégia comunicacional. Explicamo-nos mal, tarde e a más horas. Lamentamo-nos que a imprensa não sabe falar sobre nós mas quando ela nos pede que falemos, recusamo-nos com medo de sermos mal interpretados.

Queremos ter os meios mas não investimos o necessário para os ter. Temos medo de entrar num mundo que não conhecemos, não arriscamos, jogamos sempre pelo seguro.

É mais fácil dizer que os outros não vêm ter connosco, que não vão à missa, que não rezam. Os 12 estavam bem arranjados se estivessem à espera que os judeus fossem ter com eles ao cenáculo, para eles poderem anunciar Jesus morto e ressuscitado. Ainda hoje lá continuariam.

É necessário ir ter com as pessoas onde elas estão, espicaçá-las no seu mundo, fazer-lhes ver que há outros caminhos. S. Paulo não teve vergonha de ir ao Areópago falar de Jesus Cristo. Correu mal, paciência. Sempre houve um ou outro que o escutou e se converteu. Foi expulso de quase todas as sinagogas, muitas vezes à porrada. Mas nem por isso deixava de passar por lá.

É certo que todas as dioceses têm o seu jornal diocesano, que a Agência Ecclesia faz um trabalho extraordinário em divulgar o que se passa na Igreja, que há bastantes blogues de leigos e até de padres espalhados pela internet. Mas tudo isto é diálogo intra-eclesial: falamos só aos nossos, aos que já estão dentro.

A própria Rádio Renascença, Emissora Católica Portuguesa, um império da comunicação social, limita-se a dar às pessoas aquilo que elas querem.

Durante o último século fomos condicionados a fecharmo-nos ao mundo. Disseram-nos que o mundo é mau e perigoso, que há monstros lá fora, que dentro de casa é que se está bem, que só ao colo da mãe é que estamos seguros.

Dizem-nos que somos poucos e dizemos sim senhor. Dizem-nos que não sabemos nada do mundo e dizemos sim senhor. Dizem-nos que não nos devemos meter em assuntos adultos e dizemos sim senhor. Dizem-nos que não devemos interferir em coisas mundanas como a política, a economia, a cultura, os assuntos das pessoas e dizemos sim senhor.

Hoje é mais um dia triste para o meu país: o Presidente da República promulgou uma lei que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Depois de ter permitido o aborto a pedido. Os divórcios a pedido. E até os bispos nos dizem que não nos devemos meter nesses assuntos. Como se já fossemos habitantes do céu, anjos a olhar o que se passa lá em baixo. A nossa cidade é a Cidade dos Homens. Somos cidadãos de plenos direito e não nos podemos calar quando a nossa sociedade, o mundo em que vivemos se aniquila.

Quer queiramos quer não a Igreja faz política, porque os cristãos fazem política. Nós cristãos somos a Igreja e estamos integrados numa sociedade: pagamos impostos, temos os nossos filhos na escola do estado, estamos integrados no Serviço Nacional de Saúde. Somo militares, polícias, juízes, deputados, empresários. Não podemos dizer que este não é o nosso mundo. E por isso não nos podemos calar quando procuram construir uma sociedade que nos destroi.

Precisamos de uma grande jornal nacional, diário ou semanário, que possa ser um olhar cristão do que se passa à nossa volta, que possa ser a voz da consciência do nosso país. ão devemos ter medo de ser um loby, um grupo de pressão. Se um grupo empresarial funda um jornal para pressionar as autoridades a beneficiar os seus interesses, porque não devemos ter um jornal para defender os nossos interesses: a Mensagem de Jesus Cristo e a salvação das pessoas?

One comment

  1. Caro Pe Chico, subscrevo inteiramente o último parágrafo. Ainda recentemente ouvi um empresário dos média falar nisso. E quanto ao loby, contrariamente ao que muitas pessoas pensa não é uma má prática – confusão com tráfico de influências.

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